Todos naquela sala me olhavam assustados, nem eu mesmo sabia o que aconteceu,
-Yuki o que houve?-Perguntou a Freira Analice.
-E-Eu... Eu...
-Viraram picolés humanos!-Marie mexia nas estátuas.
-A Yuki fez isso!-Apontou-me uma garota. –Ela congelou Janice!
-Não, não fui eu...
Eu estava assustada com aqueles olhares acusadores em volta de mim, não pode ser eu que tenha feito isso, deve ter outra explicação. Uma borboleta branca e brilhante apareceu voando em cima do sino o descongelando, do nada ele começou a tocar sozinho, como estávamos perto demais o barulho era insuportável, não agüentamos e tapamos os ouvidos.
-Desse jeito eu vou ficar surda!-Gritou Christie.
O barulho fazia vibrar até o chão, passado cinco minutos as vibrações pararam o que significa que o sino também pode ter parado, quando abri os olhos eu estava no terraço da catedral Notre Dame juntamente com Christie, Janice e suas amigas estavam descongeladas atormentando uma garota num canto.
-Como isso aconteceu?-Perguntei assustada.
-O que?-Christie perguntou confusa.
-Janice!-Apontei. –Janice e suas amigas, como elas descongelaram?
-Congelaram?Yuki do que você está falando?
-Estávamos na sala do sino e elas estavam congeladas, afinal como viemos parar aqui?
-Não Yuki!-Christie fez um sinal de negação com a cabeça. –Não saímos daqui, você estava tão encantada com a vista que nem resolvi te perturbar.
-O que vocês estão fazendo paradas aí!-Gritou a Freira Analice subindo as escadas. –Está na hora de ir embora!
Engraçado, mas estávamos na sala do sino, o que aconteceu?Por que eu to vendo borboletas?Aquela borboleta branca deve ter alguma coisa haver com isso, insisti com Christie que Janice estava congelada, mas ela apenas riu e não acreditou, todas as pessoas daquele ônibus estavam agindo normalmente como se nada daquilo tivesse acontecido. O que está acontecendo?
Fiquei quieta durante o caminho todo de volta, ninguém ia acreditar em mim mesmo, Christie conversava com uma menina e trocava revistas de moda, alguma coisa não estava certa ali. Chegamos à escola e fizemos a mesma coisa, chamada para ver se todos estavam no ônibus, todos saíram e eu segui meu caminho e desta vez Christie não me acompanhou, já estava anoitecendo e a lua aparecia aos poucos no céu.
-O que será que eu sou?-Suspirei e olhei para o céu. –Será que eu não sou humana?
-Ei nanica o que faz aqui?
Virei-me e vi Isabella e Clara acompanhada por dois rapazes morenos de cabelos castanhos e olhos cor de mel, pelo físico parecia freqüentar academia, os dois tinham a mesma aparência, acho que são gêmeos.
-Não deveria estar em casa?-Clara me deu um cascudo.
-Estou voltando do passeio escolar!-Respondi.
Clara e Isabella me seguiram o caminho inteiro para ver se eu ia mesmo pra casa, que coisa essa desconfiança que elas têm de mim, nunca fugi pra lugar nenhum. Cheguei ao prédio e o porteiro abriu a grade.
-Vocês não vão entrar?-Perguntei.
-Nós vamos sair!-Anunciou Isabella. –Que o apartamento esteja arrumado quando voltarmos!
Não foi somente do porteiro, mas sim do recepcionista e de algumas pessoas que estavam na recepção eu ouvia coisas como “pobre menina” ou até “que irmãs cruéis”...
-Yuki!
-Madelaine, boa noite!
Madelaine é a minha vizinha, me acompanhou do elevador até meu apartamento, não é a primeira vez que minhas irmãs saem me deixando sozinha em casa e quase sempre Madelaine é quem toma conta de mim e me ajuda a arrumar a casa, ela quem faz a comida, não é que eu não saiba cozinhar porque senão eu não sobreviveria muito menos as minhas irmãs que nem fritar um ovo sabe.
-Yuki por que você atura isso?-Madelaine me ajudava a arrumar o apartamento.
-É que eu não tenho pra onde ir!-Respondi. –Elas são minhas guardiãs legais!
-Sempre há outro caminho Yuki, sua mãe sempre dizia isso!
-Minha mãe?
-Isabella e Clara tem inveja de você porque a sua mãe dirigia a atenção você!-Madelaine sorriu. –Sua mãe cuidava de você de um jeito bem especial, ela dizia que você é capaz, que você é diferente e tem força dentro de si!
-Madelaine às vezes eu sinto que minha mãe não morreu!-Olhei para a janela. –Quando eu durmo, não sinto medo... Sinto como se estivesse alguém me abraçando, me sinto protegida, uma energia tão positiva que me trás harmonia e paz!
-Quem sabe!-Madelaine sorriu. –Yuki você é capaz de fazer coisas que suas irmãs não conseguem, você é igual a sua mãe!
-Até demais!-Suspirei. –Madelaine, hoje aconteceu uma coisa muito estranha comigo, uma coisa que nem eu mesmo estou acreditando até agora... Na catedral Notre Dame, na sala do sino gigante o meu corpo queimava por dentro, mas quando a dor passou três colegas de sala minhas estavam congeladas juntamente com o enorme sino...
-Mesmo?-Madelaine se interessava pela história.
-Em cima do sino eu vi uma borboleta branca voando e descongelou o sino, do nada ele começou a tocar, quando abri os olhos eu estava no terraço das gárgulas, todo mundo viu e sabe que fui eu quem congelou Janice, mas quando aquele sino tocou, todos agiram como se nada daquilo tivesse acontecido. Eu não sou normal.
-Não é verdade Yuki!-Madelaine me consolava. –Você é especial, que nem a sua mãe, sabe Yuki talvez seja a hora de revelar seu verdadeiro eu.
-Meu verdadeiro eu?
-Yuki preste muita atenção no que vou lhe dizer, sabe por que sua mãe deu-lhe o cordão de floco de neve?
-Nunca pensei nesse detalhe!-Abaixei a cabeça. –Nesse momento ele está despedaçado em Ila de La cite!
-Como isso foi acontecer?
-Janice e suas chantagens, ela me devolveria o colar se eu alterasse as provas do colégio e eu disse não então ela o jogou da sala do imenso sino.
-Você agiu certo Yuki!-Madelaine acariciava a minha cabeça.
-Mas perdi o colar, agora não tenho mais nada para lembrar-se de minha mãe!
Não consegui conter as lágrimas, eu tinha que chorar, pois não havia motivos para não fazer isso e lá estava a única pessoa que me entende, eu a abracei chorando em seu colo.
-Naquele momento eu senti uma vontade de fazer Janice desaparecer do mapa, ela tem atormentado todo mundo e quebrou a única coisa preciosa para mim, eu senti ódio dela, mas não queria que fosse congelada, não quis fazer mal a ninguém.
-Eu entendo Yuki!
-Não sei Madelaine, estou com muito medo, eu congelei três pessoas e fiz nevar, eu estou com medo, e se eu não for humana, se eu for uma aberração?
-Você não é uma aberração Yuki!-Madelaine me consolou. –É o seu dom, o aceite... Igual a sua mãe!
-Minha mãe?-Enxuguei as lágrimas. –O que tem a minha mãe haver com isso?
-Sua mãe também demorou a aceitar o seu dom, Lilia também tinha poderes que nem você, não tenha vergonha Yuki, senão você terá vergonha de você e de sua mãe...
-Minha mãe era igual a mim?
-Yuki não pense que está sozinha, sempre te protegerei.
Madelaine me abraçou, mas seu abraço era diferente, confortável, quente, aconchegante. Me sentia protegida.
-Te amo Madelaine!
-Também te amo Yuki!-Madelaine beijou a minha testa.
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